quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Ambientalismo, entre crença e ciência

Por: José Eli da Veiga

O que está na berlinda é a possibilidade de a espécie humana evitar que o processo de sua própria extinção seja acelerado "Salvar o planeta" é uma expressão tão falsa quanto presunçosa. Pois nada que a espécie humana possa fazer afetará o planeta na escala geológica de tempo, de milhões de anos.

Diferentemente do que pretende esse slogan, não é a Terra que está sendo posta em perigo por drásticos impactos ambientais contemporâneos, como aquecimento global, erosão da biodiversidade ou escassez e degradação dos recursos hídricos.

O que está na berlinda é a possibilidade de a espécie humana evitar que o processo de sua própria extinção seja acelerado pela depleção de boa parte dos ecossistemas que constituem a biosfera. Essa fina e delicada camada que envolve o planeta. Na mesma toada, também é falso e presunçoso o discurso que apresenta a conservação da natureza como forma de "superar as ameaças à vida no nosso planeta". A continuidade da maior parte das formas de vida -das bactérias às baratas, passando pelas amebas - nem de longe está ameaçada pela capacidade destruidora adquirida pela espécie humana.

O que deve ser motivo de séria preocupação é que tal capacidade exacerba a falha metabólica entre sociedades humanas e natureza. Que permaneceu incipiente sob o domínio do fogo, mas que se aprofunda exponencialmente desde que a máquina a vapor gerou dependência de fontes fósseis de energia.

A artificialização, que tanto fez progredir a humanidade, ameaça seus próprios alicerces vitais, como um parasita que põe em risco a sobrevivência de seu hospedeiro. Mas tais alicerces não são mais que a epiderme do planeta.

Afastadas essas duas arrogantes ilusões de suposto poder discricionário sobre o destino da Terra, também ficará patente a inconseqüência de evocar "desafios da sustentabilidade" sem dizer sustentabilidade de quê. Afinal, foi na relação com o processo de desenvolvimento humano que o qualificativo "sustentável" ganhou recentemente tanta força simbólica, gerando um novo valor, talvez já mais importante e popular que seu antecessor imediato, a justiça social.

Mesmo que banalizações inerentes à moda tenham agregado à noção de sustentabilidade outras mil e uma utilidades, sua emergência foi determinada por dúvidas sobre as possibilidades futuras da expansão das liberdades humanas que está no âmago da idéia de desenvolvimento.

Quem mesmo assim preferir continuar repetindo bordões sobre salvação do planeta, ameaças à vida e sustentabilidade genérica pode se valer, claro, da ardilosa acusação de que as restrições acima são por demais antropocêntricas.

Todavia, tais jargões carregam justamente a forma mais perversa do antropocentrismo: a que supõe a espécie humana tão sábia e poderosa que é capaz até de obter sua própria perpetuação. Por contraste, enfrentar com rigor científico a discussão sobre a sustentabilidade do desenvolvimento é ter a humildade de assumir o caráter passageiro da existência humana.

Não vem apenas da moderna síntese darwiniana da evolução a certeza da impossibilidade de que qualquer espécie possa se eternizar, como propagam de forma subliminar mesmo discursos ambientalistas que não se pretendem religiosos. Decorre igualmente dessa pouco ensinada parte da física que é a termodinâmica.

Particularmente, de sua segunda lei, também evolucionária, sobre a inexorabilidade da entropia. Uma lei tão irredutível quanto a da gravidade. O processo econômico em que se baseia o progresso humano é mera transformação de recursos naturais valiosos (baixa entropia) em resíduos (alta entropia).

A segunda lei diz que a qualidade da energia em sistema isolado tende a se degradar, tornando-se indisponível para a realização de trabalho. A energia que não pode mais ser usada para realizar trabalho é entropia gerada pelo sistema. Em conseqüência, parte dos resíduos não pode ser reaproveitada por nenhum processo produtivo de tão dissipada que se torna.

Aliás, não fosse essa segunda lei, a mesma energia poderia ser usada indefinidamente, viabilizando a reciclagem integral. Não haveria escassez. Em suma, o foco do debate sobre o desenvolvimento sustentável está na esperança de que a humanidade deixe de abreviar o prazo de sua inevitável extinção se conservar a biocapacidade dos ecossistemas de que depende.

*José Eli da Veiga, 59, é professor titular do Departamento de Economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), onde coordena o Núcleo de Socioeconomia Ambiental. É autor de "A Emergência Socioambiental" (Senac, 2007).
www.zeeli.pro.br

Fonte:www.ethos.org.br

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

ONG Ecosurfi lança a campanha “Onda Limpa” no litoral paulista

Por: João Malavolta / Ecobservatório

Com o slogan “Educação Ambiental é a Nossa Praia”, a ONG Ecosurfi lançou no último sábado (12), a campanha Onda Limpa nas praias do município de Itanhaém no litoral sul do estado de São Paulo.


Tradicionalmente realizada desde o ano de 2005 no município durante os meses do verão, a campanha recebeu em seu primeiro final de semana a presença de mais de 300 visitantes, que passaram pelas tendas colocadas na areia da Praia do Sonho em busca de conhecimentos e praticas ambientalmente sustentáveis.

Devido ao grande fluxo de turistas que buscam descontração no litoral, o fornecimento de atividades de educação e sensibilização ambiental na praia é mais uma opção de lazer e entretenimento para o publico que se interessa pelo tema.


Através de uma estrutura de 120m² a campanha Onda Limpa é um espaço de interação e socialização de informações sobre meio ambiente, além de ser referência no combate à poluição das praias na Baixada Santista, uma vez que através de banners, faixas e o museu do lixo, servem de instrumentos para alertar a população sobre o problema que a poluição causa no ambiente marinho.

Com uma equipe formada por 08 monitores fornecidos pela parceria da ONG junto ao Governo Municipal de Itanhaém e 04 estagiários fruto do convênio da Ecosurfi com a PUC/Minas, a campanha oferece exposições monitoradas, oficinas de artesanato com material reutilizado e reciclável, além da disponibilização de sacolinhas retornáveis para o acondicionamento do lixo gerado pelos visitantes na praia.
Nesse ano a campanha Onda Limpa estará funcionado de terça a domingo das 09:00h às 17:00h na Praia do Sonho em Itanhaém.

Apoio: Governo Municipal de Itanhaém através das Secretárias de Habitação e Meio Ambiente, Secretaria de Turismo e Secretaria de Educação, Cultura e Esportes, Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo / SMA e CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).

Confira a Galeria de Fotos: http://picasaweb.google.com.br/joaomalavolta/EcosurfiCampanhaOndaLimpa2008

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Pesquisa mostra os desafios da imprensa

Análise inédita de textos publicados em 50 jornais de 2005 a 2007 mostra que a atenção da mídia no tema se intensificou, mas falta explorar as causas e possíveis soluções para o fenômeno.

A mídia ainda tem muitos desafios para aprimorar seu trabalho na cobertura de mudanças climáticas. É o que conclui a pesquisa Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira, que a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) lança nesta terça-feira (15/01) com o apoio da Embaixada Britânica.


O trabalho analisou 997 textos - entre reportagens, editoriais, artigos, colunas e entrevistas, publicados em 50 jornais - de julho de 2005 a junho 2007. O material representa uma amostra dos textos veiculados sobre o tema no período. A partir dos dados coletados foi elaborado um mapa bastante detalhado do tratamento editorial dispensado pelos jornais às alterações climáticas.


O ritmo da cobertura se manteve crescente no período analisado, especialmente no ano passado. No primeiro ano da análise identificou-se um texto publicado a cada cinco dias. Essa média cresce para uma matéria a cada dois dias no primeiro semestre de 2007. "Essa pesquisa, pioneira, comprova que o tema vem ganhando cada vez mais visibilidade na imprensa brasileira, certamente influenciada por grandes acontecimentos internacionais, como o lançamento do filme
Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore, e a divulgação dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC). Esses eventos permitiram que os jornalistas se familiarizassem com os fatos e a agenda relacionada ao fenômeno", explica Cristiane Fontes, gerente do Programa de Comunicação em Mudanças Climáticas da Embaixada Britânica.


Segundo a pesquisa, a temática esteve mais presente nos veículos de abrangência nacional (Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo e Correio Braziliense ) e econômicos (Valor e Gazeta Mercantil ). Enquanto os 44 jornais de circulação regional contribuíram, na média individual, com 1,46% dos textos veiculados no período, os quatro veículos nacionais somados aos dois de cunho econômico contribuíram - também na média individual - com 5,95% das matérias publicadas. Uma diferença superior a quatro vezes.

Falta de contextualização - Apesar do incremento na cobertura, o estudo mostra que a maior parte do material ainda carece de contextualização e apresenta, portanto, muitas oportunidades de aprimoramento. Do universo analisado, por exemplo, apenas um terço aborda as causas das mudanças climáticas e aponta soluções. "Você coloca as conseqüências, mas não sublinha os antecedentes e estratégias de enfrentamento da questão. Não adianta dizer que pode haver furacões, aumento do nível do mar, sem falar o que causa os fenômenos e o que pode ser feito, seja para mitigar ou se adaptar ao problema", esclarece Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e responsável pelo estudo. Segundo o especialista, mesmo o percentual de textos que mencionam o que é uma mudança climática é muito pequeno. Apenas 1,1% dos textos esclarece esse conceito ao leitor.

Com base nos resultados da análise, Guilherme Canela ressalta que a mídia exerceu pouco sua função de monitorar as políticas públicas. "Se os especialistas apontam que o Brasil ainda não possui ações na área, isso não é desculpa. A imprensa não pode falar sobre o que não existe, mas pode fazer uma cobertura de cobrança", diz. De acordo com o estudo, dos 997 textos analisados, apenas 3% levantam a responsabilidade do governo, 0,9% do setor privado e 0,25 % da sociedade civil.


Desenvolvimento fora do debate A pesquisa Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira revela que menos de 15% do material relaciona o tema à agenda do desenvolvimento, apesar da importância dessa conexão para o debate sobre a busca de soluções. Segundo a análise, a perspectiva ambiental é a principal forma pela qual a mídia reporta a questão (35,8% dos textos), seguida pelo enfoque econômico (19,7%). "A partir de agora é importante diversificar a cobertura para além da perspectiva ambiental e científica, assim como dar a ela contornos nacionais, apresentando à sociedade brasileira não apenas de que forma as mudanças climáticas podem afetar o desenvolvimento socioeconômico, mas também diferentes estratégias para combater o problema", afirma Cristiane Fontes, da Embaixada Britânica.

Entre os pontos positivos mostrados pelo trabalho, de maneira geral os jornais diversificaram as fontes ouvidas, consultando diferentes categorias de atores. Poder público, especialistas, técnicos e universidades, empresas não estatais e governos estrangeiros foram os mais ouvidos. O estudo também salienta um volume expressivo de material opinativo na amostra analisada: 26,7% são compostos por editorais, artigos, colunas e entrevistas.

Oportunidades - Em suas conclusões, os organizadores da pesquisa consideram que os elementos ainda pouco abordados pela mídia podem ser encarados como oportunidades para manter o tema em foco daqui para frente. Inclusive com a perspectiva de que, em 2008, surgirão novas pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas para o Brasil, o governo começa a trabalhar na elaboração de um Plano Nacional de Mudanças Climáticas e será dada continuidade ao Mapa de Bali , resultado da última Conferência da Partes da Convenção do Clima que vai nortear as discussões para um acordo pós-2012.


Ao oferecer ao jornalista interessado um panorama sobre o atual diagnóstico da cobertura - além de trazer dados de vários estudos internacionais - a pesquisa Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira permite ao profissional de imprensa detectar quais são os pontos nos quais ele pode avançar. Ao mesmo tempo, os dados são relevantes para que as fontes de informação aperfeiçoem o seu diálogo com os meios de comunicação nesse debate.

Clique aqui para baixar a íntegra do estudo
http://www.andi.org.br/_pdfs/MudancasClimaticas.pdf
Informações: ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância
Guilherme Canela - coordenador do estudo
(61...
gcanela@andi.org.br
Fábio Senne - assistente da Coordenação de Relações Acadêmicas (61... fsenne@andi.org.br
Ana Néca - assistente da Coordenação de Relações Acadêmicas (61... aneca@andi.org.br < mailto:aneca@andi.org.br>

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O fim de ano e algumas reflexões sobre o planeta

Reproduzindo / Por: Berlinda Pereira da Cunha

O ano mais uma vez chegou ao final. Tempo para pensar, para refletir em cada uma das coisas que nos sucederam. Das coisas que se passaram com o planeta, com cada um e com todos nós.

Lamentar de nada adianta, mas evitar tantos problemas sempre é bom.A prevenção é o melhor remédio par tudo e para todos. O planeta precisa desta prevenção e também da precaução, não sei bem ao certo se é para salvá-lo, mas por certo para recuperá-lo, para tentar resgatar os recursos ou ao menos deixar de usá-los indevidamente.

Várias alternativas passaram a ser adotadas, chegando-se ao uso de bolsas e sacolas de papel, com o esforço de sujar um pouco menos o ambiente que se vê atolado de sacolas plásticas que já servem também de revestimento para o lixo doméstico, quase sem destino certo e seguro.

O que fazer, para onde ir. São tantas as questões que muitas vezes nem sabemos por onde começar. Mas temos e devemos começar o quanto antes, por algum lugar e, se possível, com alguma prioridade, observada a partir da necessidade, da urgência e sustentabilidade.

Questões ambientais relevantes Entre tantas outras, comecemos pelos recursos utilizados, sempre necessários à qualidade de vida. Tais recursos, na maioria dos casos, são naturais e não renováveis, sendo prioritária em todos os sentidos a água doce, presente em menor porção do que a água dos mares e oceanos que revestem o planeta.

Utilizar e esbanjar todos os recursos como se fossem infinitos ou mesmo revelando nenhuma preocupação com o nosso amanhã e com o das gerações futuras poderá acelerar o caos que tanto tememos.A consciência e mudança imediata de atitude, até mesmo com a certeza de que muito se tem por fazer – além do muito que deveríamos ter feito e não fizemos – é necessária e urgente.

A reutilização dos produtos e a diminuição na utilização de muitos dos recursos naturais têm demonstrado que a educação ambiental está entre nós. O fato da demora na sua chegada não será uma punição para todos, pois reagimos e entendemos a cada dia sua importância.Esta importância passa pela questão pessoal, pela relevância do elemento humano e por toda a proteção decorrente da sociedade moderna.

A dignidade da pessoa humana passa a ocupar um lugar prioritário em nossas vidas e sem o ambiente sadio esta dignidade não tem como ser preservada. O conceito de ambiente transcende os recursos naturais – incluindo-os por certo –, chegando às cidades, à urbanização, ao êxodo rural, ao trabalho mecanizado e aos conglomerados econômicos. Nesse contexto o ambiente também deve ser sadio, bem como a qualidade de vida, com vistas inclusive à sua melhoria.

O Código do Consumidor contemplando a proteção ambiental e humana As relações de consumo tuteladas pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor alçaram um vôo maior do que as relações individuais e econômicas propriamente ditas, embora estejam estas incluídas entre aquelas.A Lei nº 8.078/90, do CDC (Código de Defesa do Consumidor), além de regrar os direitos materiais das relações de consumo, insere no ordenamento jurídico brasileiro a proteção para os direitos e interesses tomados em seu aspecto coletivo em sentido lato.

Com isso, aí se incluem além dos direitos que versam sobre a oferta, a publicidade, a compra e venda, os contratos e tudo o mais que interessa às relações individuais, inclusive, os direitos coletivos ou metaindividuais, destacando o direito ambiental, que passa a ter uma intersecção com o CDC verificada no próprio diploma, ao referir a ação civil pública, instrumento comum à proteção do consumidor e meio ambiente, por exemplo.

As relações coletivas tuteladas pelo CDC e o destaque ao atendimento das necessidades do consumidor destacam a forma como o legislador contemplou o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.Ainda, o rol dos direitos básicos do consumidor eleva a importância da sua pessoa humana, inserida nas relações jurídicas que também revelem cunho patrimonial, sem retirar as relações de consumo da proteção desta norma de ordem pública e interesse social.

Entre todos esses aspectos queremos permitir, sempre e mais uma vez, a visualização dos aspectos de proteção jurídica, que se encontram harmonicamente a partir dos direitos coletivos, o que não é por acaso. A sintonia é real e substantiva.

O eixo deste pensamento parece ser a pessoa, mas não somente em seu interesse individual, e sim a partir da sua importância no meio social, que engloba o ambiente, necessário sob todas suas formas para a preservação das vidas e espécies.

O final do ano, na verdade a contagem dos 365 dias que encerram mais um período, podem permitir e sempre permitem, o recomeço, necessário para continuarmos, para melhorarmos, para revermos nossas atitudes: se ainda preservam aqueles valores que jamais queremos perder ou resgatam e incluem novos e melhores valores em nossas vidas, a partir de hábitos mais adequados ao nosso mundo, ao planeta, para nós mesmos e todas as demais espécies e recursos. É cíclico, como a vida, como o ano, o novo ano, que seja NOVO!
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