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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Na contramão de Dilma, as áreas protegidas



A intenção da presidente Dilma Rousseff é de reduzir unidades de conservação na Amazônia por conta de obras de infra-estrutura. Crédito: WWF-Brasil

Por Nathália Clark
Fonte O Eco

Nos oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2010) foram criadas 270 unidades de conservação (UC), sendo destas 96 federais e 174 estaduais, além da ampliação de mais 20 unidades federais. Esses números representam, ao todo, o equivalente a 695.363 km² de novas áreas protegidas no país. Muitos desses méritos foram conquistados durante a gestão de Marina Silva frente ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), de 2003 a 2008. Mesmo levando em conta o fator tempo e os esforços da ministra Izabella Teixeira, o atual governo de Dilma Rousseff tem demonstrado que não pretende seguir o caminho de seu antecessor.  

As sinalizações desses primeiros meses apontam que não há ainda uma política voltada para a criação e gestão dessas áreas e, mais do que isso, demonstram maior interesse na alteração/redução dos limites de unidades já existentes, principalmente na Amazônia, por conta de obras de infra-estrutura de grande porte. Tal intenção acontece em um momento em que o Brasil sofre grande pressão internacional por conta do aumento no desmatamento, relacionado à aprovação da proposta do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados, e do licenciamento da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará.

De acordo com reportagem do jornal Folha de São Paulo de 07 de junho de 2011, o governo pretende reduzir sete unidades de conservação no bioma para permitir a construção de seis hidrelétricas, uma delas sendo a quarta maior do país. O palco da nova investida energética do Planalto é a região da BR-163, no Pará, no vale dos rios Tapajós e Jamanxim, uma das áreas mais preservadas e de maior biodiversidade da floresta. 

Para especialistas, as diferenças de gestão nos governos de Lula e Dilma no que tange ao meio ambiente e às áreas protegidas se dão, principalmente, por conta de uma conjuntura histórica. Entre 2003 e 2009, durante a era Lula, o índice de desmatamento na Amazônia caiu 74,4%. A taxa de devastação florestal chegou a 7 mil km², o menor índice já registrado desde 1998, quando foi iniciada a medição. Já no segundo mandato, o impulso pela proteção foi freado, principalmente pelo desenvolvimento de obras faraônicas como as usinas hidrelétricas no rio Madeira e projetos polêmicos de asfaltamento de estradas.

Os méritos da gestão Lula/Marina

Segundo o líder da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF, Claudio Maretti, o governo de Fernando Henrique Cardoso e os dois governos de Lula foram momentos decisivos: “Foi quando nós fizemos o que eu chamo de definição do mapa da Amazônia, foi nessa fase que o país traçou em grandes linhas o zoneamento ecológico/econômico de fato”.

Já para Maurício Mercadante, que foi Diretor de Áreas Protegidas do MMA de 2003 a 2008, durante a gestão da Marina, havia uma situação particular naquele momento, que facilitou a criação de novas áreas. “O crescimento do desmatamento estava fora de controle à época. Então, criar áreas protegidas na Amazônia fazia parte de uma estratégia de derrubada do desmatamento. Essa era uma questão fundamental para a Marina, boa parte da energia e da capacidade de trabalho do ministério foi direcionada para isso”, afirma.

Havia uma política, então, mas que deixou de ser apenas uma proposta do Ministério. “A Marina conseguiu levar isso para dentro da Casa Civil, fazendo com que a estratégia passasse a ser de todo o governo”, disse Mercadante. Para ele, essa foi a diferença fundamental. O ex-diretor defende que só é possível levar uma política adiante se estiver nos planos do governo como um todo, inclusive unindo as demais esferas estaduais e municipais.

“Outro elemento fundamental são as UCs estaduais, que foram criadas na mesma época. Não tanto as que foram criadas no estado do Amazonas, que tinha uma política própria de criação de unidades, mas sobretudo no Pará. Todas as áreas criadas, que somaram quase 20 milhões de hectares, se devem principalmente a esse movimento federal capitaneado pela Marina.”

O que se espera do governo Dilma


Claudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF, no Parque Nacional Juruena, no Mato Grosso, uma das unidades de conservação do Corredor de Conservação do Sul da Amazônia. Crédito: WWF-Brasil
Para Claudio Maretti, os governos anteriores deram muito maior atenção à Amazônia do que ao restante do país: “Só no final do último governo Lula nós conseguimos voltar a discutir o Cerrado, por exemplo, e o caso da Mata Atlântica também, que é mais tradicional, mais histórico. Mesmo assim, com uma atenção muito menor”.  

Segundo ele, então, esse primeiro governo Dilma, necessariamente, tem que dar mais atenção à implementação, à boa gestão das áreas protegidas, do que simplesmente continuar no mesmo processo de criação, “até porque, infelizmente, se compararmos com o volume de áreas criadas, o esforço que os governos anteriores fizeram de criação não correspondeu ao esforço de implementação, bem menor. Quer dizer, aumentou muito o esforço de gestão das áreas protegidas nesses últimos 14 anos, mas não na proporção em que aumentaram as áreas”. 

Mercadante está de acordo com essa ideia, mas diz que hoje a situação da presidente é muito mais confortável. “O desmatamento foi reduzido ao seu nível mais baixo em toda a história, embora tenha tido um crescimento nos últimos meses. E talvez por isso mesmo ela se veja obrigada a reforçar uma estratégia ou uma política de combate, que de alguma forma beneficie a criação de unidades”, afirmou. 

Segundo ele, ainda há muita área a ser protegida na Amazônia: “Se a Dilma tivesse uma estratégia não tão agressiva, mas de apoio, manutenção, seria uma boa opção, uma vez que as áreas mais críticas, no sul do estado do Amazonas, junto com as UCs estaduais, e no entorno da BR 163 e 364, no norte do Pará, já foram todas de certo modo razoavelmente protegidas”.

Mercadante, concordando com Maretti, lembra os outros biomas a serem protegidos. “No Cerrado, por exemplo, há ainda muito espaço para trabalhar. É mais difícil, pois as pressões são maiores, as áreas são mais ocupadas, as pressões da agricultura, do agronegócio são mais fortes, mas nós devíamos fazer um bom trabalho no Cerrado. Há necessidade disso, tanto no Cerrado quanto na Caatinga”. 

Sua ideia é que o governo tivesse uma estratégia para esses biomas, criando áreas importantes, mesmo que não fossem do tamanho das da Amazônia. “Se fosse feita uma contabilidade em termos de área, nunca se chegaria ao que foi feito no governo Lula, mas se a Dilma investisse nisso, em termos de identificação de áreas importantes, ameaçadas e de sua qualidade, poderia ser feita uma comparação qualitativa”.

Ele explica, dizendo que uma UC de 50 mil hectares na Mata Atlântica talvez tenha a mesma importância de uma de 500 mil na Amazônia, dependendo de onde ela seja criada. Para o ex-diretor, o foco poderia ser voltado para o Cerrado, a Caatinga e a zona costeira e marinha.

Ele crê, no entanto, que a principal briga de Dilma agora deveria ser o Código Florestal. “Se ela conseguir uma solução razoável no segundo semestre, pois até o último minuto o governo se omitiu totalmente, talvez já se sinta satisfeita para encarar uma Rio +20. Se não conseguir, será muito ruim para a imagem do país”, defendeu.

Cumprimento das metas estabelecidas

Falando da imagem do país perante a comunidade internacional, os especialistas lembram ainda que o governo brasileiro apoiou e ajudou a aprovar na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10), realizada em dezembro de 2010, em Nagoya, a meta de 17% a mais de áreas protegidas. Para Maretti, biomas como o Cerrado e Pantanal ainda estão muito aquém dos 10% antes previstos, o que dirá dos 17%. “Não basta proteger só as áreas que não têm interesse, conflitos, temos que preservar a diversidade”, disse. 

Ainda segundo ele, pelo balanço que se pode fazer pelos documentos, estudos e propostas do governo como um todo, parece muito difícil que essa seja de fato uma prioridade da nova presidente. “Se virmos as propostas do Ministério do Meio Ambiente, me parece que há um esforço nesse sentido, sobretudo pelos recursos alternativos. Me parece que o MMA, nessa gestão, está muito interessado em fazer uma integração com o planejamento das outras áreas, e buscar uma estabilidade e sustentação das áreas protegidas mais a longo prazo. Mas isso, confesso, eu só ouço o MMA falar, se pegarmos o Ministério de Minas e Energia, por exemplo, é outro discurso”, completou. 

Apesar das ressalvas, Maretti se mostra otimista quanto ao alcance das metas, principalmente por conta do programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), que possui recursos e parcerias com instituições internacionais e organizações não-governamentais como o próprio WWF-Brasil. Já Maurício Mercadante se mostra mais cético quanto ao empenho da presidente. 

“Na gestão da Marina, a meta de criação de unidades parecia impossível para nós, e, no entanto, conseguimos alcançar e superar. Mas foi uma conjunção de fatores particulares. O núcleo do governo Lula foi sensível e se convenceu da importância de se criar essas áreas para segurar o que estava acontecendo na Amazônia. Não vemos nada disso acontecer nesse momento, nem do ponto de vista da disposição do governo, nem em termos de pressões para se criar áreas protegidas para segurar este ou aquele bioma, em particular a Amazônia. Acho que isso não está nem proposto pelo governo. Se propondo já seria difícil, sem uma política então, é complicado”, afirmou ele.

Um PAC no meio do caminho


Uma das obras do PAC, a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, deve começar a gerar energia a partir do final do ano e já começou a mudar a paisagem no rio Madeira. Crédito: Amazonia.org
Desde a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro de 2007, o governo federal criou ou ampliou 18 áreas de conservação, segundo decretos presidenciais publicados no Diário Oficial da União (DOU). No mesmo intervalo, segundo dados do Ibama, foram emitidas 219 licenças para ações do PAC, o que representa uma licença ambiental para cada 12 licenças do programa federal de obras.

O ato de criação de uma unidade de conservação é apenas um primeiro passo para evitar o desmatamento ilegal. O próprio governo admite que é preciso avançar na aprovação de planos de manejo, no processo de regularização fundiária e no treinamento de servidores para atuar nessas áreas. De acordo com o diretor de Unidades de Conservação de Proteção Integral do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ricardo Soavinski, não há nenhuma orientação para reduzir ou frear os processos de criação de novas áreas. 

“A ministra tem falado, inclusive publicamente, em fazer o que tem que ser feito para atingir as metas assumidas pelo governo diante dos compromissos internacionais. Mas na medida em que avançamos no processo de criação, como avançou o governo Lula, é lógico que, agora, temos que colocar muito mais energia na implementação”, afirmou Soavinski.

Ainda segundo ele, nos últimos cinco anos houve um avanço significativo no número de planos de manejo publicados. “Hoje há 50% a mais de unidades com plano de manejo do que se tinha em toda a história. Nos últimos três anos foram mais de 30 planos. Só nesse ano já concluímos 11 planos, e a meta para 2011 é de mais do que o dobro do ano passado: 25 planos de manejo”, revelou.

Sabemos que a criação de uma unidade de conservação não é tarefa fácil, sobretudo pelas dificuldades consensuais, burocráticas e também técnicas. Mas, como demonstraram os especialistas consultados, se há vontade política, o resto todo sai bem mais fácil.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

No dia da Árvore podemos pensar no planeta Tb!?

Quanto custa a destruição do meio ambiente?

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a destruição da natureza causa prejuízos anuais de até 8 trilhões de reais

Texto via Planeta Sustentável


E olha que o estrago pode ser até maior, já que o Pnuma não leva em conta todas as atividades destrutivas no planeta, pois nem sempre é possível convertê-las em valores monetários. O montante desperdiçado equivale a mais de 10% do valor do que a natureza gera para a humanidade. Ao todo, "serviços" como água potável, solos férteis e outros recursos naturais rendem 79 trilhões de reais por ano. Se o ritmo de devastação não diminuir, em 40 anos o preju anual pode chegar a 7% da riqueza produzida no planeta, ou seja, pouco mais de 31 trilhões de reais. Para fazer essas contas alarmantes, a ME usou relatórios do Pnuma publicados entre 2008 e 2010.

PREJU GLOBAL - Ações do homem e da própria natureza detonam o meio ambiente e custam caro para o planeta:

EXTINTOS SELVAGENS
Cerca de 21% das espécies de mamíferos, 12% das aves, 28% dos répteis e 35% dos invertebrados estão ameaçados de extinção.

DESMATAMENTO
PREJUÍZO ANUAL - R$ 3,5 trilhões

A principal causa dos desmatamentos pelo mundo é a necessidade de criar mais espaço para agricultura. O resultado disso é a chamada conversão de habitat - destruição das florestas para fins comerciais. A América do Sul e a África foram os continentes que registraram maior perda líquida de florestas nos últimos dez anos. Vale lembrar que as florestas compõem 31% da superfície terrestre. O consolo é que o ritmo do desmatamento diminuiu cerca de 18% nesta década

• Entre 2001 e 2010, foram desmatados 130 mil km2. Comparando com os anos 90, porém, o mundo deixou de perder uma área florestal equivalente ao estado de Alagoas
• Com a média anual de 13 mil km2 desmatados, dá para dizer que 1 m2 desmatado "custa" R$ 270. Nesta "cotação", o desmatamento da Amazônia ao longo da história equivale a R$ 231 trilhões
• Na África Subsaariana, que inclui 47 países, como Senegal e Quênia, a erva-bruxa invasora ocasionou cerca de R$ 12 bilhões por ano de prejuízos nas culturas de milho
• O desmatamento na Amazônia caiu 74% entre 2003 e 2009

ESPÉCIES INVASORAS
PREJUÍZO ANUAL - R$ 2,5 trilhões

Espécies animais e vegetais que invadem ecossistemas também causam muito prejuízo mundo afora. No reino animal, os invasores desequilibram a cadeia alimentar e, entre os vegetais, competem com espécies cultivadas por recursos essenciais, como água, luz e oxigênio, além de hospedar pragas. Isso aumenta o custo de produção dos alimentos e compromete a fertilidade do solo

• Os coelhos causam R$ 655 milhões de perdas à agricultura da Austrália todo ano
• A introdução do parasita Gyrodactylus salaris fez com que a densidade de salmões na Noruega caísse em 86%, gerando um prejuízo estimado em R$ 35 milhões

Pragas Brasilis - Espécies invasoras do Brasil:
* Tiririca (Cyperus rotundus) - Comum nas lavouras de milho, feijão e cana-de-açúcar
* Tiriricão (Cyperus esculentus) - Frequente em culturas de café, cana-de-açúcar, arroz e maçã
* Grama-seda (Cynodon dactylon) - Marca presença em pastagens e em culturas de milho, soja e uva

OUTROS
PREJUÍZO ANUAL - R$ 2 trilhões

Aqui entram vários estragos "menores" no meio ambiente, como desgaste dos solos, pesca excessiva e extinção de espécies. De acordo com a agrônoma Patrícia Monquero, da Ufscar, há três formas de degradação do solo: química (queda de fertilidade), física (erosão, compactação) e biológica (perda de biodiversidade). A sobrepesca é um problema tão grave que já atinge 80% dos estoques pesqueiros mundiais

• Cerca de 25% dos solos estão degradados (30% dessa área é de florestas, 20% pertencem a áreas agrícolas e 10% a pastos). O estrago é maior na África, na Austrália, na Ásia e na América do Sul
• Atualmente, os esforços de pesca são cinco vezes maiores do que na década de 1970. Ou seja, é preciso gastar cinco vezes mais tempo e dinheiro para pescar a mesma quantidade de 40 anos atrás
• Os países que mais sofrem com sobrepesca são os africanos Mauritânia, Gâmbia, Senegal e Serra Leoa
• Entre 1995 e 2005, o capim-chorão (Eragrostis plana) causou R$ 51 milhões em prejuízos à agricultura gaúcha
• O mexilhão-zebra e a amêijoa-asiática, moluscos introduzidos por acidente no litoral dos EUA, dão um preju anual de R$ 8,8 bilhões
• Todo ano, há um prejuízo mundial de R$ 60 bilhões relativo ao que é pescado e não é consumido

FONTES: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Panorama da Biodiversidade Global 3 e The Economics of Ecosystems and Biodiversity - Cost of Policy Inaction (relatórios divulgados pelo Pnuma em 2008 e 2010); Oliver Hillel, coordenador da Secretaria de Biodiversidade da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU.

domingo, 8 de novembro de 2009

Por falta de quorum, comissão suspende votação de projeto que anistia desmatadores

A votação da proposta que prevê anistia aos responsáveis pelo desmatamento de aproximadamente 34 milhões de hectares na Amazônia foi suspensa nesta quarta-feira (4) por falta de quorum. Cerca de 20 minutos após o horário marcado para o início da reunião, o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, Roberto Rocha (PSDB-MA), suspendeu a sessão. Apenas nove parlamentares haviam assinado a lista de presença.

O deputado disse que a suspensão foi uma estratégia para ganhar tempo e diminuir as divergências entre ruralistas e ambientalistas. Na última quarta-feira (28), também houve uma tentativa de votação do projeto, que, no entanto, foi suspensa após obstrução da oposição e manifestação da organização não governamental Greenpeace.

“Retiramos o projeto de pauta para distender um pouco, buscar um ponto de consenso. Temos que trabalhar alguns pontos que estão muito nervosos e efetivamente apresentar ao plenário algo que seja minimamente convergente”, disse Rocha.

A proposta que seria analisada é um substitutivo ao Projeto de Lei nº 6.424/05, conhecido como Floresta Zero. O relator da proposta na Câmara, deputado Marcos Montes (DEM-MG), incluiu no texto a possibilidade de consolidação de áreas desmatadas até 31 de julho de 2006, dispensando os proprietários da obrigação de recompor a reserva legal. Além disso, o substitutivo prevê outras mudanças na legislação, o que, segundo ambientalistas, é uma tentativa de modificar o Código Florestal fora da comissão especial criada para essa finalidade.

Ambientalistas comemoraram a falta de quórum na reunião desta quarta. O deputado Sarney Filho (PV-MA) disse que a suspensão da votação indica que “o assunto morreu” e que o projeto não deve mais ser votado. “Não há condições políticas para votar isso. Temos agora que concentrar esforços na comissão especial para que não haja retrocesso.”

O coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, Nilo D'Ávila, classificou a suspensão de “ato de lucidez” do presidente da Comissão de Meio Ambiente. “Esse projeto é um golpe. Esperamos uma discussão séria, mas sem falar em anistia. É um projeto que não deveria nem ter nascido, era ruim e ficou pior ainda”.

O presidente da comissão, Roberto Rocha, disse que pretende construir acordo para colocar o texto em votação ainda este mês. (Fonte: Luana Lourenço/ Agência Brasil)

ambientebrasil.com.br

sábado, 30 de maio de 2009

“Os bois comerão a Amazônia em 20 anos”

Para economista Guilherme Dias, o modelo de produção agropecuária atual e a aprovação da medida provisória que regulariza terras griladas poderão devastar a Amazônia brasileira.


A abertura de pastagens na Amazônia é responsável por 78% do desmatamento na região. Parte desses pastos depois, se torna lavouras de soja, algodão ou outros grãos. Assim, a fronteira agropecuária do Brasil avança em direção à floresta amazônica. Segundo o economista e especialista em produção agropecuária Guilherme Leite da Silva Dias, se não barrarmos essa expansão e mudarmos o modelo de pecuária extensiva para a intensiva, em 20 anos, as florestas terão sido devastadas pelos bois. “Se deixar do jeito que está, os bois comerão a Amazônia em 20 anos e não há restrição de clima ou solo para isso”, diz.

Para Dias, se a medida provisória 458/09 for aprovada, ficará ainda mais difícil frear o desmatamento. A MP permite que a propriedade de terrenos de até 1500 hectares (15 km²) ocupados na Amazônia Legal seja transferida pela União sem licitação a quem os ocupou até 1º de dezembro de 2004. Dias considera essa medida uma nova “Lei de Terras”, como a que o Brasil teve em 1850 e legitimava o usucapião, ou a “posse pelo uso”, que daria legitimidade à grilagem. A MP foi aprovada pela Câmara na metade do mês de maio e espera agora aprovação do Senado.

O avanço da fronteira agrícola na Amazônia é motivada, principalmente, por dois fatores: a crescente demanda dos consumidores pelos produtos e o baixo preço das terras ilegais da floresta. Estima-se que, a cada dez anos, o consumo de carne bovina estimule um crescimento de 35% no setor pecuário.

Modelos de produção sustentável e intensiva ajudariam a diminuir a invasão das florestas nativas mas a sua adoção pelos produtores ainda é pequena. Dias afirma que a produção intensiva não é bem aceita por quem depende financeiramente do setor. Como concentra a produção e os serviços num espaço menor, ela exige uma cadeia menor entre produção e comércio e, por isso, gera menos renda e precisa de menos trabalhadores.

Apenas 10% das fazendas adotam a produção intensiva, mas essa minoria prova que ela é possível. A ONG Aliança da Terra, por exemplo, agrega mais de 60 produtores rurais que adotaram um modelo produtivo que respeita os recursos naturais ao mesmo tempo em que é economicamente viável.

Os fazendeiros da Aliança da Terra estão concentrados principalmente na região amazônica, na bacia do Rio Xingu e no noroeste de Mato Grosso. Eles adotaram o chamado “sistema de integração lavoura-pecuária”, que permite a alternância de produção de soja e pastagem de boi num mesmo ano. De novembro a fevereiro, a soja é plantada e colhida. Depois da colheita, durante a época de chuvas, sementes como as de agrião são plantadas para fornecer capim ao gado que se alimentará no local a partir de junho.

Segundo Marcos Reis, diretor da Aliança da Terra, esse sistema demanda uma manutenção do solo que não é complexo nem caro. É possível ter pastagens de gado com uma média de seis a oito bois por hectare, enquanto a média na Amazônia é entre 0,4 e 0,6 bois por hectare.

Reis é de uma família de ruralistas e acredita que hoje há uma nova geração de produtores que se preocupa com a terra e a região onde está e pensa no futuro dos recursos naturais. Por isso, para ele, o sistema intensivo tem muito potencial de expansão. “Não precisamos derrubar mais nenhuma árvore na Amazônia”, diz. Para que os bois não “comam” toda a floresta, como Guilherme Dias teme, é preciso que que os sistemas mais sustentáveis, como os que Aliança da Terra promove, ganhem espaço no setor agropecuário brasileiro.

Fonte: Época
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