segunda-feira, 24 de março de 2008

*Juventude e Meio Ambiente*

Por: Efrain Neto / EcoBlog

Estamos vivenciando um período muito interessante de nossa história naodisséia terrestre. É um momento que exige a reformulação de nossocomportamento perante a natureza e perante a própria civilização humana.Segundo o filosofo Guattari, vivenciamos a crise de três ecologias: umasocial, uma ambiental e outra tecnológica.

Para o pensador, nos encontramosem um paradoxo lancinante: de um lado, o desenvolvimento contínuo de novosmeios técnico-científicos potencialmente capazes de resolver asproblemáticas ecológicas dominantes e determinar o reequilíbrio dasatividades socialmente úteis sobre a superfície do planeta e, de outro lado,a incapacidade das forças sociais organizadas e das forças subjetivasconstituídas de se apropriar desses meios para torná-los operativos.

Do ponto de vista socioambiental, para fazer alusões, é importante destacarque a cada ano que passa, o consumo da humanidade supera mais rapidamente acapacidade de regeneração do planeta, como aponta o estudo de PegadaEcológica da ONG Footpoint Network, que tem o Brasileiro Fábio Feldman e opesquisador William Ress, da universidade canadense de British Columbia. Em2007, no dia 6 de outubro, faltando quase três meses para o Réveillon, ahumanidade já havia consumido todos os recursos naturais que o planetasuportaria repor naquele ano.

Para que todo essa crise seja solucionada, énecessário que a sociedade dos cinco continentes mudem o padrão deexploração dos recursos e passem a utilizar apenas o que a natureza é capazde produzir e repor; essa é única maneira de saldar a dívida e solucionar oproblema que se agrava a cada dia.Caso este consumo continue em 2050 precisaremos de dois planetas Terra parapromover os recursos que requeremos.

O Brasil hoje possui uma pegadaecológica média de 2,1 hectares por habitante por ano, número superior àmédia mundial sugerida para que atingíssemos um padrão de consumosustentável hoje, que seria de 1,8 (hectares/hab/ano), mas bastante próximada mídia mundial per capta de 2,2.

Descubra sua Pegada Ecológica

<http://www.earthday.net/Footprint/index.asp>

Em meio a todo esse processo de reformulação de comportamento sobre a crisesocioambiental mundial, re-emerge o papel dos jovens articuladores. O jovem participa ativamente dos movimentos ambientais há bastante tempo. Suaparticipação é destacada, principalmente, por movimentos de denúncia,atividades sociais, eventos e a própria organização civil das ações.

A juventude se insere, portanto, num cenário de maior complexidade, cujaproblemática necessita de analises integradas – uma visão holística do seucomportamento e do comportamento da humanidade.

Para Regina Novaes, na sociedade moderna, embora haja variação dos limitesde idade, a juventude é compreendida com um tempo de construção deidentidades e de definição de projeto de futuro. A juventude é a fase davida mais marcada por ambivalências.

Os projetos do futuro que sãoconstruídas pelos jovens se encaixam perfeitamente no que chamamos deDesenvolvimento Sustentável, e o caminho que muitos jovens traçaram paraalcançar os seus sonhos é a Educação Ambiental, que se tornou meio deexpressão e manifestação do desejo de atuar e participar.

Vivenciar,desenvolver e compartilhar processos transformadores de educação ambientalmantém a chama acesa e possibilitam reflexões e mudanças.Partindo do princípio, apresentado por Reigota, de que a educação ambientalé uma proposta profunda a educação como a conhecemos, não sendonecessariamente uma prática pedagógica voltada para a transmissão deconhecimentos sobre ecologia.

Compreendemos que a educação ambiental visanão só a utilização racional dos recursos naturais, como uma reformulação denosso comportamento, inclusive conscientizando a humanidade do seu perante opériplo humano sobre a Terra.

Para o Instituto de Estudos da Religião (ISER, 2006, os principais problemasambientais do bairro, na opinião dos jovens de 16 a 24 anos, são o climacada vez mais quente (55%), o aumento de doenças respiratórias (35%) e ocrescimento da poluição do ar (43%). E os principais problemas ambientais doBrasil, para esses mesmo jovens, são o desmatamento e a queimada deflorestas (69%), a poluição dos rios, lagos, mar e praias (43%) e a poluição do ar (33%).A juventude é o espelho retrovisor de nossa sociedade. A cada tempo e lugar,fatores históricos, estruturais e conjunturais determinam asvulnerabilidades e as potencialidades da juventude.

Os jovens do século XXI,que vivem em um mundo que conjuga um acelerado processo de globalização emúltiplas desigualdades sociais, compartilham uma experiência geracionalhistoricamente inédita, e boa parte da mudança socioambiental, que irágarantir a vida das gerações futuras, dependem de atitudes da juventude.Frutos já são colhidos pelo Brasil afora: Coletivos Jovens de Meio Ambienteem todos os estados do Brasil, Rede da Juventude pelo Meio Ambiente(Rejuma<http://www.rejuma.org.br/>)e o Grupo de Trabalho de Juventude no âmbito do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento(FBOMS<http://www.fboms.org.br/>).

Alguns instrumentos legais são relevantes para a área e merecem serdestacados: Lei 6.981/81 institui o Sistema Nacional de Meio Ambiente(SISNAMA), mas não mencionam o segmento da juventude como sendo um dos 58componentes desse sistema.

A Constituição Federal de 1988 (artigo 225) estabelece que todos possuem direito ao meio ambiente ecologicamenteequilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo epreservá-lo para as presentes e futuras gerações. Já a Lei 9.795/99 -Política Nacional de Educação Ambiental - estabelece que ela não deva seruma disciplina no ensino básico, devendo ser trabalhada de formatransversal.

Define também que a educação ambiental não se restringe aoensino formal, masque deve ser implementada na sociedade como um todo, pormeio do poder público, de instituições educativas, meios de comunicação,empresas e organizações da sociedade. Mesmo tendo respaldo jurídico para muitas de suas atitudes perante o meioambiente, a juventude ainda encontra muita dificuldade para as suasatividades.

A área é caracterizada pela inexistência de políticasespecificas para a juventude. Um das grandes dificuldades apresentadas é afalta de circulação de informações sobre o tema e sobre oportunidades,formulação e a implementação de programas de ações na área. Identifica-se,por falta de mecanismos legais, a inexistência de instâncias e espaços paraa participação da juventude no Sistema Nacional de Meio Ambiente -SISNAMA<http://www.mma.gov.br/port/conama/estr1.cfm>.

As ações ficam restritas a participação de organizações que contam com aparticipação de jovens e instituições da área ambiental.Seriam necessárias políticas federais para regulamentar a participação dajuventude.

Merecem destaque as ações voltadas à participação política dajuventude em processos consultivos e deliberativos do meio ambiente, como na Conferência Nacional de Meio Ambiente e a Conferência NacionalInfanto-Juvenil pelo Meio Ambiente.

Conferência Nacional de Juventude <http://www.juventude.gov.br/conferencia>

A Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude é um espaço dediálogo entre o poder público e a sociedade sobre os desafios do segmentojuvenil e quais alternativas devem ser tomadas pelos governos pararespondê-los.

Realizada de dois em dois anos, ela é um processo no qual os jovens e interessados na temática de todo o Brasil se reúnem para discutir asituação das pessoas que compõem esta faixa etária e apontar quais são asprioridades de ações e programas a serem desenvolvidos pelo poder público.

A conferência poderá ser uma ótima oportunidade para pontuarmos todas essas questões. Quem sabe dessa vez, a juventude e o meio ambiente ganhem umregras que viabilizem e destaquem as ações dos jovens. A partir das organizações regionais para a conferência já foi possívelobservar a promoção de programas para juventude em diversos municípios dopaís.

Alguns criaram assessorias, coordenações e, até mesmo, secretária dejuventude. Espero que essas ações realmente possam render resultadosimportantes para a manutenção de uma boa política pública para a juventude.

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